sexta-feira, 9 de maio de 2014

O que é o bem comum?

Olá, galera!  Como colunista  do Uol notícias,  Chomsky argumenta sobre diversos assuntos ligados à política , à sociedade ,entre outras  relevâncias. Esta coluna está dividida em três partes,  as duas últimas serão postadas nos próximos dias.

Boa leitura!

Parte 1 / 3.

Os humanos são seres sociais, e o tipo de criatura que uma pessoa se torna depende essencialmente das circunstâncias sociais, culturais e institucionais de sua vida.
Somos, portanto, levados a investigar os arranjos sociais que conduzem aos direitos e ao bem-estar das pessoas, e à realização de suas justas aspirações - em suma, o bem comum.
Como perspectiva, eu gostaria de invocar o que me parecem truísmos virtuais. Eles se relacionam a uma categoria interessante de princípios éticos: os que são não apenas universais, na medida em que são virtualmente sempre professados, mas também duplamente universais, porque ao mesmo tempo são quase universalmente rejeitados na prática.
Estes variam desde princípios muito gerais, como o truísmo de que devemos aplicar a nós os mesmos critérios que aplicamos aos outros (senão mais rigorosos), até doutrinas mais específicas, como a dedicação a promover a democracia e os direitos humanos, que é proclamada quase de maneira universal, mesmo pelos piores monstros - embora o registro atual seja sombrio, em todo o espectro.
Um bom lugar para começar é com o clássico "Sobre a Liberdade", de John Stuart Mill. Sua epígrafe formula "o grande princípio condutor para o qual convergem diretamente todos os argumentos desdobrados nestas páginas: a absoluta e essencial importância do desenvolvimento humano em sua mais rica diversidade".
As palavras citadas são de Wilhelm von Humboldt, um dos fundadores do liberalismo clássico. Segue-se que as instituições que restringem esse desenvolvimento são ilegítimas, a menos que possam de alguma forma justificar-se.
A preocupação pelo bem comum deveria nos impelir a encontrar maneiras de cultivar o desenvolvimento humano em sua mais rica diversidade.
Adam Smith, outro pensador do iluminismo com ideias semelhantes, acreditava que não deveria ser muito difícil instituir políticas humanísticas. Em sua "Teoria dos Sentimentos Morais", ele observou que "por mais egoísta que um homem supostamente seja, há evidentemente alguns princípios em sua natureza que lhe interessam na fortuna dos outros e lhe fazem necessária a felicidade destes, embora não extraia nada disso exceto o prazer de vê-la".
Smith reconhece o poder do que chama de "máxima vil dos senhores da humanidade": "Tudo para nós e nada para os outros". Mas as "paixões originais da natureza humana", mais benignas, poderiam compensar essa patologia.
O liberalismo clássico naufragou nos recifes do capitalismo, mas seus compromissos e aspirações humanísticos não morreram. Rudolf Rocker, um pensador e ativista anarquista do século 20, reiterou ideias semelhantes.
Rocker descreveu o que chama de "tendência clara no desenvolvimento histórico da humanidade" que busca o "livre e desimpedido desdobramento de todas as forças sociais e individuais na vida".
Rocker delineava uma tradição anarquista que culminou no anarcossindicalismo - em termos europeus, uma variedade do "socialismo libertário".
(...)

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