domingo, 25 de maio de 2014

O que é o bem comum?

Parte:  2 / 3
Esse tipo de socialismo, afirmou ele, não retrata "um sistema social fixo, auto-encerrado", com uma resposta definitiva para todas as multifacetadas questões e problemas da vida humana, mas sim uma tendência no desenvolvimento humano que busca atingir os ideais iluministas.
Assim compreendido, o anarquismo faz parte de um leque maior de pensamento e ação socialistas libertários que inclui as conquistas práticas da Espanha revolucionária em 1936; vai além, para empresas de propriedade dos trabalhadores que se espalham hoje no cinturão do ferro americano, no norte do México, no Egito e em muitos outros países, mais extensamente no País Basco na Espanha; e abrange os muitos movimentos cooperativistas em todo o mundo e boa parte das iniciativas de direitos humanos feministas e civis.
Essa ampla tendência no desenvolvimento humano busca identificar estruturas de hierarquia, autoridade e dominação que restringem o desenvolvimento humano, e então submetê-las a um desafio muito razoável: justificar-se.
Se essas estruturas não vencerem o desafio, devem ser desmanteladas - e, acreditam os anarquistas, "remodeladas a partir de baixo", como observa o comentarista Nathan Schneider.
Isto soa em parte como um truísmo: por que alguém defenderia estruturas e instituições ilegítimas? Mas os truísmos pelo menos têm o mérito de ser verdades, o que os distingue de uma grande parte do discurso político. E acredito que eles fornecem passos úteis para se encontrar o bem comum.
Para Rocker, "o problema que se coloca para nosso tempo é o de libertar o homem da maldição da exploração econômica e da escravidão política e social".
Deve-se notar que o tipo de libertarismo americano difere acentuadamente da tradição libertária, aceitando e de fato defendendo a subordinação dos trabalhadores aos senhores da economia, e a submissão de todos à disciplina restritiva e às características destrutivas dos mercados.
O anarquismo se opõe famosamente ao Estado, enquanto defende a "administração planejada das coisas no interesse da comunidade", nas palavras de Rocker; e, indo além, federações abrangentes de comunidades e locais de trabalho autogovernados.
Hoje os anarquistas dedicados a esses objetivos muitas vezes aprovam o poder do Estado para proteger as pessoas, a sociedade e a própria terra da destruição do capital privado concentrado. Isso não é uma contradição. As pessoas vivem, sofrem e resistem na sociedade existente. Os meios disponíveis devem ser usados para protegê-las e beneficiá-las, mesmo que um objetivo de longo prazo seja construir alternativas preferíveis.
No movimento dos trabalhadores rurais do Brasil, fala-se em "ampliar os pisos da jaula" - a jaula das instituições coercitivas existentes que podem ser ampliadas pela luta popular -, como aconteceu efetivamente ao longo de muitos anos.
Podemos ampliar a imagem para pensar na jaula das instituições estatais como uma proteção das feras selvagens que vagam lá fora: as instituições capitalistas predadoras e apoiadas pelo Estado, dedicadas em princípio ao lucro, poder e dominação privados, com o interesse da comunidade e do povo no máximo como uma nota de rodapé, reverenciado na retórica mas negligenciado na prática como uma questão de princípio e até de lei.
Grande parte do trabalho mais respeitado na ciência política acadêmica compara as atitudes públicas com a política do governo. Em "Affluence and Influence: Economic Inequality and Political Power in America" [Afluência e influência: desigualdade econômica e poder político nos EUA], o acadêmico de Princeton Martin Gilens revela que a maioria da população americana está efetivamente despossuída.

(...)
Rafael Quintiniano da Silva Lopes

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